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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Presidente da UNE diz que ela não quer ser neutra na eleição


.A decisão de se colocar com independência em relação à disputa presidencial, deliberada no encerramento do 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais (CONEG), no Rio de Janeiro, não fará da União Nacional dos Estudantes (UNE) neutra durante o processo. Quem avisa é o presidente da entidade, Augusto Chagas (foto) em entrevista a Terra Magazine.

Confira a entrevista.

Terra Magazine - A UNE decidiu pela independência diante das eleições presidenciais. Vocês optaram por esse posicionamento porque se sentiram constrangidos ou pressionados em razão das insinuações feitas por parte da imprensa de que a entidade tem uma postura governista, chapa-branca?
Augusto Chagas - Não. Esse posicionamento já é tradicional da UNE. Nossa tradição é não apoiar candidaturas. Houve poucas ocasiões em que tomamos uma posição desse tipo. Em 2002, por exemplo, no segundo turno, a UNE construiu um plebiscito e, com o resultado dele, tomou a decisão de apoiar o candidato Lula. Nossa posição histórica é essa. A novidade nessa ocasião foi que, ao longo do processo do CONEG, fortaleceu-se a ideia de que deveria fazer o apoio. A imprensa divulgou muito, chegou a pegar declarações de dirigentes da UNE, defendendo essa proposta de apoio a uma candidatura. Depois, surgiu uma proposta contra o candidato Serra, uma campanha anti-Serra. E eu sustentei, durante o fórum, que deveríamos manter nossa posição de independência, por considerar que é o melhor para a UNE.

Mas vocês se sentiram constrangidos de alguma forma?
Não. Eu diria que tem duas questões fundamentais, que para nós são muito valiosas e que estão muito acima de qualquer constrangimento. A UNE não sente constrangimento pelas insinuações que de vez em quando aparecem. Sempre procuramos responder a elas com a segurança de quem tem confiança nas opiniões que defende. Tem duas questões muito valiosas para nós, que balizaram nossa decisão. A primeira é a questão da pluralidade da UNE. No interior da entidade, inclusive na diretoria, há jovens que se organizam em correntes políticas diversas. Você tem jovens ligados ao PCdoB, ao PT, a PSB, mas você tem jovens também ligados ao PSDB, ao Democratas, ao PMDB, ao PPS, ao PSOL, ao PV... Percebo que, inclusive, são jovens que se identificam com pré-candidaturas diferentes. Acho que uma das questões que sempre fortaleceram a UNE, nessas várias décadas de história, é que ela sempre conseguiu conviver democraticamente com essas diferenças de opinião. Nossa decisão primeiro foi balizada em fortalecer essa característica. A UNE é forte justamente por causa dessa composição.
A outra (questão) tem relação com a disputa política eleitoral, porque a UNE não quer ser neutra na disputa. Uma parte da imprensa chegou a noticiar que a UNE estaria neutra. A palavra não é a mais adequada. Pretendemos estar independentes no processo. Acho que são os partidos políticos que devem ter candidatos. Esses, sim, devem ter suas coligações e personificar em determinadas candidaturas suas ideias. A UNE tem condição de contribuir de outra maneira, que são com nossas propostas. Isso é muito mais valioso e ajuda muito mais no debate que a sociedade vai fazer. Nós saímos com um programa, que tem opinião sobre uma série de questões na sociedade.

É o programa que vocês vão apresentar aos candidatos...
Exatamente. E aí, a responsabilidade dos candidatos de se afinarem ou não é deles. Dos setores que eles representam, das ideias que defendem. A UNE não está preocupada se a figura A, se a figura B implementará determinadas ideias. A UNE está preocupada com quais setores elas vão estar representadas, que propostas serão implementadas, que políticas conduzirão o Brasil no próximo período. Saímos com uma posição muito consistente, muito correta. A UNE saiu unida, fortalecida e com mais capacidade de ajudar no debate que a sociedade brasileira vai fazer. No final das contas, nosso objetivo é ajudar, fazendo com que o debate das eleições possa se concentrar naquilo que interessa mais ao Brasil. E, por outro lado, podemos mobilizar os estudantes, o que, no final das contas, tem condição de mudar a realidade.

Em 2006, a UNE lançou um movimento contra o então candidato Geraldo Alckmin (PSDB). Durante o fórum, vocês decidiram não levar à plenária a moção de repúdio ao atual pré-candidato tucano, José Serra. Isso teria relação com o passado de Serra, que foi presidente da entidade na década de 1960?
Em 2006, a UNE, formalmente, não adotou a campanha contra o Alckmin. Tem uma confusão, porque, boa parte dos diretores da UNE, naquela ocasião, no segundo turno, optou por assinar uma campanha que defendia que o Alckmin não era uma saída. Eles lançaram aquela chamada: "Alckmin não." Mas essa foi uma opção individual desses dirigentes. Obviamente, teve um peso, porque uma parte confundiu, pensando que a UNE estava fazendo a campanha. O próprio presidente na ocasião assinava a campanha e alguns dirigentes também assinaram. Não foi construída pela UNE e não significou um posicionamento formal da entidade. Quando teve, foi em 2002, na verdade. Na época, existiu um plebiscito Lula X Serra. O Lula venceu, e a UNE declarou apoio formal a ele.

Então, se no segundo turno das eleições presidenciais 2010, a disputa ficar entre Dilma e Serra, a UNE tenderá a apoiar a candidata do PT?
Acho que nós acabamos de sair de um fórum, que tirou uma posição muito firme sobre como a UNE deve se posicionar nos próximos meses. A UNE deve se posicionar com independência, apresentando nossas propostas aos diferentes candidatos e fortalecendo determinadas visões que, com muita justeza, temos o direito de ter. O momento agora é de se concentrar nisso. É muito cedo para saber o que vai acontecer até outubro, como as pré-candidaturas vão se transformar em candidaturas, qual vai ser a definição dos programas dessas candidaturas, as ideias que cada um dos candidatos defenderá. Isso tudo vai definir se a UNE, por ventura, vai tomar ou não uma posição no segundo turno. Agora, a gente deve se concentrar no que o fórum acabou de aprovar.

Sobre os pontos que foram aprovados, há quem diga que eles têm convergências com o governo Lula...
A UNE tem posição sobre determinadas políticas. Isso está muito claro no programa que aprovamos. Nós somos contra, por exemplo, o retrocesso a determinadas políticas, que foram implementadas não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Na década de 90, existia uma hegemonia de pensamento, que a UNE combateu naquela ocasião, que tem a ver com a ideia das privatizações a qualquer custo, da diminuição do Estado a qualquer custo, da diminuição das políticas sociais, dos arrochos fiscais, dos cortes orçamentários para políticas de educação, saúde. Tem a ver com a relação com os movimentos sociais muito antidemocráticas. Nós tivemos um ministro da Educação, o Paulo Renato, que, durante oito anos, nunca recebeu a UNE. Não se deu ao trabalho de fazer uma audiência para escutar a opinião da entidade. Hoje, a UNE tem condições de ser recebida pelo presidente da República, a cada seis meses. Temos o direito de ter opinião sobre determinadas políticas. A UNE sabe o que não quer. Ela vai lutar para que o Brasil não retroceda. E nós queremos avançar em determinadas posições. Precisamos muito avançar ainda em uma série de políticas... A UNE não sai neutra. Ela tem opiniões. Se essas opiniões são absorvidas pelos candidatos, isso é uma responsabilidade deles. Queremos saber dos candidatos quais deles concordam com nossa visão.

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