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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Cartunista tenta justificar o injustificável e defende charge preconceituosa contra Dilma


Pior do que cometer um erro grave é tentar justificar o erro mesmo quando se tem a consciência da gravidade da prática. É uma maneira de tentar justificar o injustificável. Foi exatamente isto que o cartunista Nani fez em entrevista ao Portal Terra, no final desta tarde, quando defendeu a polêmica charge em que compara a candidata do PT Dilma Rousseff a uma garota de programa. Ao invés de se retratar, Nani fez o contrário: reforçou sua visão machista e preconceituosa, tentando se proteger sob o manto da liberdade de expressão.

O cartunista tenta se defender dizendo que “eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor”. Ora, até que ponto o humor pode ser legitimado como ponto de defesa que justifique qualquer tipo de desrespeito? Que espécie de blindagem é essa que se construiu em torno do chamado “humor” e que é usada como prerrogativa para que os tais “humoristas” simplesmente façam sua arte explorando preconceitos e deixando de lado o respeito às outras pessoas? Não, não estamos fazendo aqui discurso moralista até porque este tipo de argumentação não condiz com este blog.

Estamos simplesmente questionando se o humor pode ser ilimitado a ponto de ser usado como instrumento para denegrir a imagem de pessoas ou grupos sociais. E vale reforçar que o denegrir aqui não é pelo fato do cartunista ter comparado Dilma a garotas de programa, pois estas, assim como a candidata e qualquer outra espécie de profissional, são dignas de todo respeito. O que se coloca em pauta aqui é o humor que é construído sobre as bases da exploração do preconceito, do machismo e do sexismo. Não é possível que se tolere esse tipo de prática apenas porque “o humor usa metáforas”, como diz Nani em sua entrevista.

Vale fazer humor baseado em preconceitos?
O cartunista deve ser livre para criar sua arte, mas assim como qualquer outro profissional não deve fazer do seu trabalho um instrumento que fomente o preconceito que tanto se busca combater na nossa sociedade. Ao ser indagado pelo Terra como ele encarou as críticas à sua charge, Nani justificou que “não discutiram o conteúdo, a mensagem da charge. O cartunista usa uma metáfora pra falar do assunto. Hoje, eu usei a panela do programa da Dilma. O cozido, o pirão dela. É a mesma metáfora: todo mundo tá querendo, os outros partidos querem interferir no programa”. Certo, até aí nada contra o que Nani diz. Mas porque o cartunista usa uma metáfora preconceituosa se pode se valer de outra que não carregue preconceito?

Aqui, este blog dá até uma sugestão ao cartunista:
já que ele queria pegar o gancho de que Dilma supostamente estaria “vendendo” o seu programa, poderia muito bem ter colocado a candidata atrás de uma barraca de feira efetuando a “venda”. Não haveria reclamações. Isso sim seria uma forma de humor sem preconceito, sem machismo e sem sexismo. E a mensagem passada seria exatamente a mesma, porém não de uma forma agressiva, mas simplesmente divertida, que deve ser a proposta central do humor. Humor não pode ser instrumento de agressão, mas sim de diversão e de crítica sim. Porém, como dito anteriormente, existem maneiras e maneiras de se fazer uma crítica e esta escolhida (e defendida) por Nani, certamente passa longe de ser a forma ideal.

Mas Nani não parece arrependido: pelo contrário, reforma o seu machismo na entrevista ao dizer que “machismo é essa reação das mulheres. Quando eu fiz com os homens, ninguém se importou... Ninguém se importou com ACM de Tiazinha, FHC de peitos de fora... Homem nenhum se incomodou. Por que a mulher tem essa sensibilidade? Ela é uma pessoa pública, não é dona da sua imagem. Tem que ser criticada. Eu usei uma metáfora. Pode ter sido ruim, mas eu simplesmente fiz humor”. Percebe-se a tentativa do cartunista de subverter a lógica das coisas: Nani ousa dizer que as mulheres foram machistas porque se indignaram com a “brincadeira” e não ele.

Este blog defende veementemente a liberdade de expressão e também de humor. Mas para tudo existe um limite e, nesse caso, o limite é claro: toda forma de humor construída sobre pilares do preconceito, seja ele qual for, deve ser repudiado. Caso contrário, se admitirmos que esse tipo de prática continue através desta malfadada blindagem do humor estaremos certamente perpetuando em nossa sociedade preconceitos que há muito estamos combatendo. Nani errou ao fazer uma charge preconceituosa e machista, mas errou mais ainda ao tentar defender o seu erro, reforçando sua visão sexista e retrógrada. Humor dessa espécie não tem a menor graça.

Um comentário:

  1. Esse tal cartunista Nani deve estar esperando um empreguinho no TV "Curtura"; lugar onde vão os puxa sacos dos tucanos.

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