BLOG PROGRESSISTA - NOTICIAS PREFERENCIAIS DO PT

RESPONSÁVEL MARIO ALVIM DRT/MT-1162

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O povo dos Grotões - uma reflexão oportuna da professora Rosa Neide Sandes


Nós que nascemos e crescemos no interior, nas pequenas cidades, vistas por muitos como os grotões, povoados por pessoas ingênuas e, por vezes, consideradas com gente ainda manipulada, temos um jeito diferente de ser, de viver, de avaliar, de ver o mundo.
Nos grotões ainda se olha a lua, se conversa com são Jorge, se constrói relações significativas, se compreende o papel do humano na lida com o planeta.

Nesse lugar de pertencimento, sentimos as energias cósmicas e conseguimos enxergar as lições que a natureza de forma surpreendente nos indica. Vemos os anúncios, os prenúncios, o porvir que o conjunto de fenômenos naturais anuncia.

É fundamental nascer na grota, crescer entre os jecas-tatus, construir uma identidade de quem se humaniza no processo de relação homem e mundo e se perceber num processo de quem está apenas dando os primeiros passos em busca de sabedoria, a sabedoria da grota.
Na grota, consegue-se beber na fonte, inspirar-se, banhar-se e limpar-se das impurezas dos que passaram por ela, mas não a enxergaram, não a sentiram, pois não querem ver e sentir o odor e o sabor dos jecas que habitam os rincões deste país e, especialmente, do estado de Mato Grosso.

Nasci no seco sertão baiano, nordeste do Brasil. Aprendi desde cedo a superar a falta de todos os bens materiais, mas sorvi da fonte da grota e me senti fortalecida no ato de denunciar e de anunciar. Aos 14 anos, enquanto muitos vendavam os olhos para não ver a grota e os que nela vivem e sobrevivem, eu levantava cedo, 5 da manhã e me dirigia à entrada de minha cidade para entregar panfletos esclarecendo aos trabalhadores quanto custava um dia de trabalho e quanto eles estavam sendo explorados pelos latifundiários.

A luta coletiva orientada de forma cristã e festiva pelo pároco de nossa capela, professor de inglês no meu ensino médio, também anunciava as possibilidades de organização, de trabalho cooperativo e do sonho com um pedaço de terra para a produção livre e sem exploração.

Aos 17 anos peguei a estrada e como “pau-rodado” cheguei a Mato Grosso. Como normalista comecei a serena e encantadora profissão de professora, sempre no grotão.
Em 1981, estimulada pelo amigo Gilney Viana, filiei-me ao partido dos trabalhadores. Mesmo que distante dos centros maiores, participei ativamente da história do nosso partido e nunca tive dúvidas de nossas utopias. Caminhei ao lado de grandes guerreiras e guerreiros, todos da grota.

Viver no interior, no mato, na grota, na condição de Jeca, nos habilita a ser mais irmãos, mais fraternos e mais povo. Receber visitas é para nós do mato uma grande alegria. Arrumamos as casas, colocamos flores nas janelas para propagar o grande evento, pois é anunciado que chegarão da cidade as ilustres figuras públicas a quem devemos respeito significativo e desejo de abraçar. Foi assim que passei 30 anos esperando a visita dos ilustres do Partido dos Trabalhadores, das figuras a quem não aceitava nenhuma mácula.

Um dia, por motivos tantos, resolvi sair da grota, cheguei à cidade, agora não mais como aos 17 anos. Estava mais amadurecida, entretanto ainda acreditava em fadas, em bruxas , em varinha de condão. Conheci de carne e osso as figuras públicas que tanto admirei e exortei. Percebi que alguns me viam e me reconheciam, pois também se identificavam com o povo da grota, outros não. Com a carcaça mais endurecida, fui tomando coragem e procurando desvendar e desvelar o processo que fazia revelar o que eu teimava em não ver.

Gente antiga que dizia: “estou boquiaberta, não pensei que você tão capaz” - sei que não sou - “...nunca me viu” - pensei... o que viam quando nos visitavam , uma Jeca??? Com certeza!!!

Mas, a Jeca foi identificada por outros tantos , da cidade ou da grota, entrincheirados pela mesma causa. No espaço urbano, sem perder a capacidade de olhar a lua e falar com São Jorge, comecei a compreender de que lado está cada um e cada uma, quais são as preocupações, com que armas lutam. E aí, sem medo de ser feliz, fui fazendo opções. E hoje só me junto aos Jecas ou com os que respeitam os Jecas. Se o caminho não for o mais fácil, não me importa, haverá portas... e outros caminhos se abrirão...

Conhecer de forma mais direta os companheiros, irmãos e amigos Ságuas e Abicalil me fez ter a certeza de que o espaço público deve ser ocupado por pessoas capazes, comprometidas com o povo (sendo da grota ou não), mas não pela cor partidária. Acima de tudo o que se preza é o respeito à legislação e ao momento democrático de nosso país, liderado pelo companheiro Lula.

Carlos e Ságuas não me perguntaram de que tendência eu era, se eu era e se estaria ou não ao lado deles em questões políticas pessoais e, em momento algum, encaminharam orientações de que no nosso espaço de trabalho deveríamos nos juntar apenas a um único contingente organizado. Pelo contrário, os companheiros Ságuas e Carlos SEMPRE honraram os princípios da educação pública e democrática de nosso estado, portanto, tem a minha companhia e o meu apoio, pois Jecas ou não, nascidos na grota ou não, apóiam e respeitam a consciência conquistada na luta de todos os petistas que vivem no interior de Mato Grosso, que não se vendem, pois sabem onde querem chegar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário